sexta-feira, 20 de junho de 2008

Ameaça ao jornalismo e à sociedade

Após 60 anos da regulamentação profissional está na pauta do Tribunal Federal um recurso extraordinário que revoga a exigência de formação universitária específica para o exercício da profissão de jornalista. Depois de anos de lutas para que existissem exigências quanto ao trabalho como jornalista, a sociedade se vê diante de um retrocesso e uma ameaça à informação democrática com qualidade e ética. Surge assim também a ameaça à liberdade e à opção de escolha.

O jornalista é formado para ter responsabilidade social, ir atrás da verdade independente de quantas versões ela tenha, e tentar passar para a sociedade as diversas interpretações de um mesmo fato. Ele deve entender que, apesar de suas convicções individuais, tem o dever de informar o que é de interesse público. Mesmo que não concorde, não pode ter preconceitos na hora de escolher o que irá relatar. Não pode, também, utilizar sua profissão como instrumento de poder na obtenção de vantagem pessoal, ou mesmo como forma de distorcer e manipular informações.

Ainda que os especialistas falassem sobre suas especialidades, é preciso diploma para falar de assuntos triviais. A entrevista exige do jornalista um conhecimento amplo em diversas áreas para a construção de uma matéria imparcial, rica em conhecimento, dando credibilidade ao leitor na busca pela veracidade. A filosofia, sociologia, história, política, antropologia entre outras, que compõem a grade curricular do curso não são em vão, pois permitem a reflexão sobre como todas as mudanças por quais passamos nos inseriram no cenário que atualmente vivemos, e ajudam a entender a maneira que vivemos e seus porquês. Assim, o jornalista pode estabelecer critérios de qual informação é relevante para a sociedade para a qual ele comunica.

Com toda esta formação teórica, cultural, técnica e ética o jornalista está apto ao exercício adequado de sua profissão. Fica a pergunta de quem ganhará com o fim da obrigatoriedade do diploma, serão os jornalistas e a sociedade em geral, ou será o empregador que poderá pagar o salário que achar adequado? E a mídia monopolizadora que por meio de seus “especialistas” vai poder mostrar as verdades que mais lhe convirem ? Caso um profissional sem diploma fosse processado por problemas de ética da Comunicação, como a justiça o julgaria? Ele não teve acesso à ética e à legislação jornalística em um curso de graduação de jornalismo. Fica, então, a imagem da empresa que o empregou, pois ela quebrará os contratos éticos e sociais estabelecidos implicitamente com os leitores.

É explicito que aqueles que buscam por meio de sua profissão uma forma de contribuir com a sociedade, sabem, a priori, que o salário que a categoria recebe não está em sincronia com o seu esforço e empenho. Entretanto, continuam, com eficaz interesse, buscando informações de qualidade para seus leitores, ouvintes e telespectadores na formação de uma sociedade crítica.

Texto elaborado pelas acadêmicas de Jornalismo Ananda Delevati e Flavia Alli.

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