segunda-feira, 30 de junho de 2008

Acadêmicos de Jornalismo vão às ruas contra a desregulamentação da profissão


Estudantes dos cursos de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, e do Centro Universitário Franciscano - Unifra, deflagraram na manhã desta segunda-feira, 30 de junho, um movimento que pretende mobilizar as demais instituições de ensino superior do país. Vestidos de preto, portando faixas, entoando palavras de ordem e distribuindo panfletos informativos à população, eles tomaram frente à mobilização dos sindicatos de jornalistas de todo o país e da Fenaj, na vigília contra a tentativa de desregulamentação da profissão.

O Supremo Tribunal Federal deve julgar, no começo do segundo semestre deste ano, o mérito da questão que se arrasta desde 2001, quando a juíza substituta da 16º Vara Cível da Justiça Federal - 3ª Região, de São Paulo, Carla Rister, concedeu liminar assegurando a qualquer pessoa o direito de obtenção de registro para exercer a profissão de jornalista. A mobilização dos estudantes de Santa Maria, cidade-natal do ministro Eros Grau, do STF, iniciou junto ao complexo que abriga os órgãos do Judiciário no Município e de lá percorreu as principais ruas da cidade. No Calçadão central, foram recolhidas assinaturas para o abaixo-assinado em apoio aos jornalistas brasileiros. A manifestação contou com a participação do presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, José Maria Rodrigues Nunes, e do diretor Arfio Mazzei, que se deslocaram de Porto Alegre para acompanhar o ato. "Esperamos que estudantes de outras universidades gaúchas sigam o exemplo dessa primeira manifestação, em adesão à luta de toda a categoria", afirma Nunes.



Para os diretores do Sindicato dos Jornalistas em Santa Maria, a mobilização foi extremamente produtiva. "A iniciativa partiu dos próprios acadêmicos, a maioria alunos dos primeiros semestres do curso de Jornalismo, que demonstraram conscientização, entusiasmo e disposição para essa luta que deve ser de todos nós", destaca Elisa Pereira. "O importante é que essa mobilização dos estudantes pode trazer visibilidade à questão e agendar o tema na mídia convencional, onde, em função do evidente interesse da classe patronal, o assunto não entra em pauta", avalia Ludwig Larré.



Os primeiros resultados da mobilização puderam ser sentidos no acolhimento da causa pela população santa-mariense. "Achei o ato muito interessante. Sou professora e sempre ensinei meus alunos a buscarem os seus direitos. É justamente isso que os estudantes de Jornalismo estão fazendo. Enquanto cidadã, quero profissionais que tenham capacidade e qualificação para fazer bem o seu trabalho, com competência”, ressaltou Valderes Maria Almeida de Castro, que ao passar pelo Calçadão manifestou apoio ao ato.

O pioneirismo dos acadêmicos de Jornalismo da cidade universitária gaúcha na defesa do diploma deve ter seqüência mais atividades. Eles já estão em contato para mobilizar estudantes de outras universidades do estado. O objetivo é obter adesão cada vez maior ao movimento pela não desregulamentação da profissão. "É importante a nossa união pela causa. Precisamos de mais colegas participando e defendendo o diploma de jornalista", salienta o acadêmico da Unifra Leandro Passos Rodrigues.

Fotos: Bibiane Moreira

Fonte: Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul





sábado, 28 de junho de 2008

Diploma na mão é qualidade de informação

Iniciar um movimento não é fácil. É preciso comprometimento entre os integrantes, busca de argumentos e credibilidade e autoridade suficientes para dar corpo ao ato. Critérios esses que sempre buscamos na prática do jornalismo. Dessa forma, começamos a nos organizar para a defesa de um direito nosso e de toda sociedade.

Motivados pelas discussões e pelos debates no 33º Congresso Estadual de Jornalistas, que ocorreu em Santa Maria dias 13 e 14 de junho, decidimos que a hora da mobilização era agora. O movimento Jornalistas por Formação - Santa Maria pretende, a partir desse ato inicial, incitar os acadêmicos e a comunidade em geral a defender a lei que hoje regulamenta o diploma de jornalismo. Ou, ao menos, sua prática.

Sim. Como sabemos, a lei no Brasil precisa ser cobrada para que seja cumprida. O que vemos hoje são diversos meios midiáticos, principalmente em cidades do interior do país, contratando jornalistas sem diploma. Primeiro, porque não há abrangência nem profundidade de notícias suficiente. Segundo, pela precariedade estrutural dos meios, que não permitem a contratação de jornalistas registrados. Muitas oportunidades de emprego se perdem por essas razões, e a prática improvisada desse jornalismo é mais visto como um favor à sociedade, sedenta por informações locais, que não as fofocas de novelas e palavras cruzadas, muito comuns a esses veículos.

Um jornalismo sério, comprometido com os fatos e com a qualidade da informação, pode render em publicidade. Ou seja, nessa rixa histórica entre as classes da comunicação, o apoio dos publicitários pode ser rentável a ambos. Arrisco-me a dizer, também, baseado em fatos por mim presenciados, que o nível de alienação de uma comunidade pode ser medida a partir da qualidade jornalística a ela fornecida. E muitos desses jornalistas por ofício preferem acreditar no argumento contrário.

Baseado na campanha nacional da Fenaj, com o apoio do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, o movimento Jornalistas por Formação - Santa Maria ganha corpo, toma forma e inicia uma série de ações visando a defesa da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão. Dentre as ações, queremos unir forças com os cursos de Comunicação Social de todo o Estado, contato esse que será feito em breve, tendo em vista a urgência de tal mobilização.

Nosso movimento também busca o apoio de jornalistas formados no exercício da profissão. Tal credibilidade e autoridade que buscamos por meio desses apoios visa a uma maior conscientização da população bem informada que quer continuar a ser servida por informações desse teor.

A voz dos jornalistas sempre foi usada em defesa de muitas classes trabalhadoras do país. Chegou a hora de lutarmos por uma classe que ninguém costuma defender. A nossa!

Texto elaborado pelo acadêmico de Jornalismo Eduardo Covalesky Dias

terça-feira, 24 de junho de 2008

O Jornalista e a necessidade de sê-lo.

Nunca pensei que fosse eu adentrar o universo soturno da transgressão. Sempre fui semi-acomodada, parte revoltada, quase burguesa, parcialmente triste. Fui, até hoje, uma pessoa pela metade. E é coisa muito séria perceber-se como ser humano mediano, mundano, beltrano. Mais um entre tantos, desprovido de coragem, quiçá caráter, para combater as mazelas as quais percebemos diariamente pelas janelas dos coletivos urbanos das grandes metrópoles.

O que vi há alguns pares de dias fez com que eu mudasse meu viés de análise da pior forma possível: a auto-tragédia. Querem desregulamentar a profissão à qual dedico minha formação. Pretendem retirar de forma torpe, ilegal e facínora o direito ao diploma de comunicólogo-jornalista. Não há sequer um motivo plausível –além dos gordos bolsos e de interesses fétidos das grandes corporações- a dar aval a esse intento. Tirar o direito a exercer um jornalismo ético, centrado e aplicado é crime contra o povo, contra a nação, contra a democracia. A fim de clinicar, advogar ou lecionar necessita-se de formação específica, e isto parece lógico e racional num primeiro instante. Faz-se necessário esmiuçar as mais variadas partículas de cada ciência, desprender delas as minúsculas parcelas de método e técnica. É a práxis, o treino, período imprescindível para a formação do profissional, em todas e quaisquer áreas.

A ética não nasce junto ao homem, como defendem muitos autores. Ela deverá ser trabalhada, abordada, discutida e criticada a fim de atender aos interesses da coletividade, do povo, do todo. Interesses medíocres e mundanos daqueles que apenas pretendem perpetuar a ignorância coletiva e a alienação capitalista em prol de seus objetivos não podem ser a base da comunicação social. Não poderemos assistir à tirada de mais um direito básico e vital do cidadão brasileiro! O direito à informação crítica, comprometida com a verdade, esclarecedora e imparcial é dever de todo profissional jornalista e direito do país, já tão estigmatizado pela escravidão intelectual imposta pelas grandes potências.

Bastará criatividade e alguma espécie primária de talento para o exercício de uma tarefa carregada de tamanha responsabilidade e comprometimento? Não perceberão aqueles que comemoram com esta medida que ela apenas visa criar mais e mais protótipos humanos a servir aos interesses das grandes empresas que governam o Brasil? Não conseguem visualizar que os futuros “jornalistas” que o distinto senhor Severiano Alves pretende lançar ao mercado trabalharão horas e horas por salários de miséria, apenas para sustentar os interesses de empresas milionárias?

Convido a todos para a luta! Não para a luta banalizada, escancarada, violada. Convido-o para adentrar ao front do esclarecimento, da defesa da verdade e da democracia. A informação séria e consciente é parte constituinte da evolução intelectual de um povo. Nós, como estudantes, profissionais, e principalmente como povo a ser lesado por tal medida temos, não só o direito, como o dever de repudiar tal liminar! Avante, brasileiros, lutemos contra a burrice e a ignorância. Comunicação sem diploma, não!

Texto elaborado pela acadêmica de Jornalismo Ananda Halberstadt Müller

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Ameaça ao jornalismo e à sociedade

Após 60 anos da regulamentação profissional está na pauta do Tribunal Federal um recurso extraordinário que revoga a exigência de formação universitária específica para o exercício da profissão de jornalista. Depois de anos de lutas para que existissem exigências quanto ao trabalho como jornalista, a sociedade se vê diante de um retrocesso e uma ameaça à informação democrática com qualidade e ética. Surge assim também a ameaça à liberdade e à opção de escolha.

O jornalista é formado para ter responsabilidade social, ir atrás da verdade independente de quantas versões ela tenha, e tentar passar para a sociedade as diversas interpretações de um mesmo fato. Ele deve entender que, apesar de suas convicções individuais, tem o dever de informar o que é de interesse público. Mesmo que não concorde, não pode ter preconceitos na hora de escolher o que irá relatar. Não pode, também, utilizar sua profissão como instrumento de poder na obtenção de vantagem pessoal, ou mesmo como forma de distorcer e manipular informações.

Ainda que os especialistas falassem sobre suas especialidades, é preciso diploma para falar de assuntos triviais. A entrevista exige do jornalista um conhecimento amplo em diversas áreas para a construção de uma matéria imparcial, rica em conhecimento, dando credibilidade ao leitor na busca pela veracidade. A filosofia, sociologia, história, política, antropologia entre outras, que compõem a grade curricular do curso não são em vão, pois permitem a reflexão sobre como todas as mudanças por quais passamos nos inseriram no cenário que atualmente vivemos, e ajudam a entender a maneira que vivemos e seus porquês. Assim, o jornalista pode estabelecer critérios de qual informação é relevante para a sociedade para a qual ele comunica.

Com toda esta formação teórica, cultural, técnica e ética o jornalista está apto ao exercício adequado de sua profissão. Fica a pergunta de quem ganhará com o fim da obrigatoriedade do diploma, serão os jornalistas e a sociedade em geral, ou será o empregador que poderá pagar o salário que achar adequado? E a mídia monopolizadora que por meio de seus “especialistas” vai poder mostrar as verdades que mais lhe convirem ? Caso um profissional sem diploma fosse processado por problemas de ética da Comunicação, como a justiça o julgaria? Ele não teve acesso à ética e à legislação jornalística em um curso de graduação de jornalismo. Fica, então, a imagem da empresa que o empregou, pois ela quebrará os contratos éticos e sociais estabelecidos implicitamente com os leitores.

É explicito que aqueles que buscam por meio de sua profissão uma forma de contribuir com a sociedade, sabem, a priori, que o salário que a categoria recebe não está em sincronia com o seu esforço e empenho. Entretanto, continuam, com eficaz interesse, buscando informações de qualidade para seus leitores, ouvintes e telespectadores na formação de uma sociedade crítica.

Texto elaborado pelas acadêmicas de Jornalismo Ananda Delevati e Flavia Alli.